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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Opinião de José Lemos Silva - Militar com hobbie da fotografia

      José Lemos Silva - Militar com hobbie da fotografia (veja as suas belíssimas fotografias na página do facebook http://www.facebook.com/#!/jose.lemossilva.3)
1.       Diga o que entende por Geoturismo.

Genericamente o Turismo visa a visita e a observação de espaços geográficos desconhecidos por parte de turistas. As paisagens apreciadas pelos mesmos sejam elas humanizadas ou naturais, têm particularidades geológicas que passam despercebidas a muitos turistas que visam o Turismo da Natureza. Assim, para satisfação dos mesmos, basta a simples contemplação dessas mesmas paisagens. Por outro lado, se aliar-mos a esses espaços geográficos a oferta de conhecimentos científicos sobre os aspectos geológicos, ambientais e culturais, teremos de facto o Geoturismo, salvo melhor opinião.
Em complemento, foi através da «Declaração de Arouca», saída do Congresso Internacional de Geoturismo - «Geotourism in Action - Arouca 2011» que decorreu no Arouca Geopark (Portugal continental), sob os auspícios da UNESCO, entre 9 a 13 de Novembro de 2011, que ficou definido no seu ponto nº 1 o conceito de Geoturismo. Assim, e de acordo com essa mesma declaração, entende-se por Geoturismo o «turismo que sustenta e incrementa a identidade de um território, considerando a sua geologia, ambiente, cultura, valores estéticos, património e o bem-estar dos seus residentes», e que, o «turismo geológico assume-se como uma das diversas componentes do geoturismo».

2.       Considera que o Geoturismo compreende um novo nicho do turismo de natureza na ilha da Madeira e Porto Santo com potencialidades de aproveitamento económico?

A paisagem do arquipélago madeirense de origem vulcânica com milhões de anos, apresenta um enorme conjunto de formas, rochas e estruturas, que decorreram de entre outros factores, da natureza dos seus magmas, do tipo das várias erupções que as originou, sendo posteriormente moldada pelos agentes externos da hidrosfera, atmosfera e biosfera. Assim, uma vez que o Geoturismo é uma modalidade turística que fomenta a geodiversidade e sítios com interesse geológico protegidos e preservados (já com alguma legislação própria, tanto regional como nacional e europeia), considero que o mesmo poderá compreender um novo nicho do turismo de natureza na ilha da Madeira e Porto Santo com potencialidades de grande aproveitamento económico para o Arquipélago. E, isto porque os espaços insulares apresentam uma geodiversidade (ou diversidade geológica) com características muito próprias nas diferentes ilhas do Arquipélago. Atrevo-me a dizer que o Geoturismo se poderia estender às outras ilhas designadamente às Desertas e às Selvagens como complemento do turismo de cruzeiro e do turismo científico.

3.       Na sua opinião, que aspectos relacionados com a geodiversidade da ilha da Madeira e Porto Santo carecem de maior atenção e aproveitamento para fins turísticos?

O Geoturismo deve ser uma «forma de fazer turismo» que possa promover a identidade de um determinado destino e do seu desenvolvimento sustentável oferecendo a possibilidade de descobrir novas vivências (ou novas experiências) que enriqueçam culturalmente os turistas. Desta forma, teremos que ter sempre em conta os aspectos relacionados com a geodiversidade, designadamente dos elementos que a complementam (ou integram) juntamente com a geologia, que são os residentes (que exploraram e ainda exploram os recursos geológicos das ilhas para a construir o seu património edificado: edifícios, poios e levadas etc.), os seus usos e costumes, as tradições, a cultura, a etnografia e gastronomia. Neste sentido, entendo que na ilha da Madeira e do Porto Santo os aspectos anteriormente enunciados serão os mais relevantes para fins turísticos dos geodestinos, e recordo a supracitada «Declaração de Arouca», em que o Geoturismo visa o «turismo que sustenta e incrementa a identidade de um território, considerando a sua geologia, ambiente, cultura, valores estéticos, património e o bem-estar dos seus residentes».

4.       Enumere locais na ilha da Madeira e Porto Santo passíveis de serem convertidos em atracões geoturísticas?

Por ser um leigo no tema em análise e igualmente por não ter conhecimentos académicos para responder directamente à pergunta e se me é permitido, aproveito para relembrar o enquadramento histórico-geológico do Arquipélago da Madeira e de certo modo responder indirectamente às questões enunciadas. Assim, geologicamente o Arquipélago da Madeira, segundo as teorias mais recentes, tiveram início há milhões de anos, em consequência da expansão do Atlântico, em consequência do movimento das Placas Tectónicas, em erupções que ocorreram pela ascensão de magma proveniente da Pluma Térmica, formando pontos quentes ou «hot-spots» (o Hotspot Madeira e o Hotspot das Canárias), localizados no manto subjacente à Placa Tectónica Africana. O arquipélago madeirense foi formado por tipos de vulcanismo diferentes entre si e pertencem também a duas «províncias petrográficas» distintas: uma engloba a Madeira, Desertas e Porto Santo e a outra que constitui as ilhas Selvagens. Segundo os especialistas, as primeiras ilhas a emergir foram as Selvagens, há cerca de 27 Ma, seguidas do Porto Santo, há 14 Ma, e a Madeira e Desertas, aproximadamente, há 5,2 Ma.
As erupções vulcânicas que deram origem ao Porto Santo (14 Ma) iniciaram-se na época do Miocénico do período Neogénico (Terciário). A leste e a nordeste localiza-se o conjunto de aparelhos vulcânicos principais. É nesta área que se observa as maiores altitudes e os vales mais encaixados, apesar de ser a unidade geomorfológica mais antiga. O pico do Facho é o mais alto (517 m), seguindo-se o Branco (450 m), o Gandaia (449 m) e o Castelo (437 m). Na área ocidental salientam-se os picos do Espigão (270 m) e de Ana Ferreira (283 m), de formação mais recente que o grupo de cones vulcânicos do nordeste, apresentando altitudes bastante inferiores. Entre o Pico do Castelo e o Pico de Ana Ferreira, estende-se a depressão quase plana que constitui a terceira unidade geomorfológica desta Ilha. As costas leste, norte e oeste, são altas e escarpadas, com muitos recortes, contrastando com a extensa praia de areias calcárias que ocupa quase todo o litoral sul da Ilha, onde estudos científicos recentes as consideram de grande valor terapêutico.
Ao que sabe através comunicação social e das entidades oficiais, a Ilha do Porto Santo com os seus cerca de cerca de 27 Ma tem no presente momento a apresentação do processo de candidatura do seu Geoparque da UNESCO. Segundo os especialistas, são catorze os locais de relevância geológica do Geoparque do Porto Santo que poderão assumir-se como geossítios, nomeadamente «a Disjunção Prismática do Pico de Ana Ferreira, os Conjuntos de filões e rizoconcreções dos Morenos, as Lavas em almofada e alteração em disjunção esferoidal do Zimbralinho, os Recifes fossilizados e Galerias do Ilhéu da Cal, os Tubos de lava do Ilhéu de Cima, o Cabeço das Laranjas do Ilhéu de Cima, os Eolianitos da Serra de Fora, o Salão da Serra de Dentro (Navalhão-Baião), os Níveis Fossilíferos do Lombinho da Serra de Dentro, a Disjunção Prismática do Pico Branco, Hialoclastitos do Pico da Cabrita, os Conjuntos de filões do Porto das Salemas, os Eolianitos da Fonte da Areia e, por fim, as Areias biogénicas carbonatadas, fossilíferas, da Praia do Porto Santo» (JN 24 abr 2011).
Relativamente à Ilha da Madeira, esta que surgiu (a fase emergente da água do Mar), no período do Neogénico (Terciário), da época do Pliocénico (há cerca de 5,2 Ma), numa área afastada do turbulento Rift Meso-Atlântico. Na sua formação, do centro da Terra brotaram as torrentes de lava, as cinzas e outros materiais piroclásticos que se foram acumulando. Os aparelhos eruptivos foram profundamente corroídos pelos agentes erosivos e apenas no Santo da Serra e no Fanal, se conservam ainda em bom estado crateras vulcânicas. Os primitivos focos vulcânicos madeirenses deram origem ao Maciço Montanhoso Central de que fazem parte, entre outros, os picos: Ruivo (1862 m), Torres (1851 m), Areeiro (1818 m), Cidrão (1802 m), Cedro (1759 m), Casado (1725 m), Grande (1657 m), Ferreiro (1582 m). Posteriormente, ao fim desta fase (ou de várias fases?), formou-se uma pequena ilha rodeada de recifes coralígenos, restando vestígios da fauna marinha numa camada calcária no Sítio dos Lameiros, em São Vicente que foi explorado para produção de cal. Nas fases seguintes, as chaminés vulcânicas passaram a ter erupções mais calmas, e cobriram-se de cinzas, escórias e bombas vulcânicas com lavas basálticas. Com o vulcanismo predominantemente efusivo, novos focos surgiram a oeste e a leste da ilha primitiva. A ocidente formou-se o Planalto do Paul da Serra, enquanto a Leste nasceram os pequenos planaltos do Poiso e Santo da Serra e a península de São Lourenço e as Desertas. As tensões no interior dos aparelhos vulcânicos, geraram fracturas e muitas delas foram preenchidas posteriormente por injecções de magma, formando-se, assim, as redes de filões e diques que podem ser observadas na parte central da Ilha e nalguns trechos da costa. Terminado o trabalho dos vulcões, começaram as águas torrenciais, provenientes das chuvas, a «moldar» e a construir grandes vales profundos, como é o exemplo do Curral das Freiras de entre outros. Desta luta de milhões de anos entre elementos da natureza, resultou actual paisagem natural da Madeira admirada por todos os que a visitam. A costa da Madeira e das Desertas, é predominantemente alta e escarpada. A «abrasão marítima», provocada pelo Atlântico teve por consequência a formação de derrocadas (quebradas), dando origem às fajãs madeirenses. O Cabo Girão é o segundo alcantilado marinho mais alto do mundo com 580 metros de altitude. As praias de calhaus ocupam estreitos espaços entre as falésias e o mar. Na Madeira não existem notícias históricas recentes de manifestações vulcânicas. O vulcanismo aqui é considerado quase extinto ou adormecido. A título de curiosidade, recentemente na ilha da Madeira com a construção de túneis e galerias de captação de águas subterrâneas, (Túnel da Encumeada e Galeria da Fajã da Ama), foram encontradas águas gasocarbónicas naturais e gases expelidos através de fracturas, o que pode significar que, o Arquipélago apenas atravessa um período de inactividade vulcânica. Ainda relativamente à Ilha da Madeira poderemos ter como atracões geoturísticas distribuídas pelos primitivos focos vulcânicos madeirenses (que deram origem ao Maciço Montanhoso Central), o Planalto do Paul da Serra, os pequenos planaltos do Poiso e Santo da Serra, a península de São Lourenço (as dunas da Piedade e Pico da Piedade) e grande parte do litoral insular como por exemplo o Pico da Atalaia no Caniço.
Igualmente, e como já referi anteriormente, não vou enumerar ou classificar locais de relevância geológica na Ilha da Madeira que possam ter características para serem classificados como «atracão geoturísticas» deixando isso para os especialistas, até porque alguns já foram enunciados nos parágrafos anteriores. Neste contexto e em complemento ao anteriormente dito, recordo que a RAM através do Decreto Legislativo Regional nº 24/2004/M, publicado no Diário da República, Número 196 I-A Série, de 20 de Agosto de 2004 que vem desde já salvaguardar e proteger algum património geológico do arquipélago. Este mesmo decreto dá como exemplos, as formações geológicas, como o «Homem em pé» e a «Cara» ou «Cabeça», localizados na Achada do Teixeira, no concelho de Santana, o «Arco» e as «Furnas» em basalto, na Tabua, o «Ilhéu» da ribeira da Janela, a «Gruta do cavalum», em Machico, as «Grutas», em São Vicente, o «Frade», no Vale de São Vicente, a «Chaminé» e a «Carapita», no Vale da Boaventura, na Madeira e o «Pico da Ana Ferreira», no Porto Santo. Algumas destas formações geológicas, têm formas humanóides e são conhecidas no arquipélago por «pedras vivas» ou «pedras antropoglifitas», que correspondem a figuras de seres humanos. Segundo o mesmo decreto regional, a «melhor maneira de preservar um bem patrimonial comum é fomentar o seu acesso científico, cultural e pedagógico a todos os que possam e queiram usufruir, pelo que urge criar legislação de âmbito regional para assegurar a sua conservação e preservação».

5.       Na sua opinião, que tipo de políticas deveriam ser implementadas tendo em vista a valorização da geodiversidade no contexto do sector do Turismo?

No meu entender a biodiversidade e geodiversidade são conceitos que cada vez mais se afirmam nas políticas de desenvolvimento das sociedades actuais num mundo globalizado onde a informação corre sem fronteiras. Não existe desenvolvimento económico e social sem criarmos políticas protecção do meio em que vivemos pois corremos o risco de colocar em causa a nossa própria sobrevivência. Assim, devem ser implementadas políticas que visem o desenvolvimento sustentável, a preservação e a protecção (ou a recuperação) do património natural que é comum a todos nós, designadamente na criação de geoparques (com os seus geossítios) «como territórios de excelência» onde o meio natural seja parte integrante da vivência humana. Estas políticas devem sempre ter em conta a valorização da geodiversidade e do património geológico, e a envolvência ou interacção dos seus residentes onde estão inseridos, e nunca ao contrário, pois teríamos efeitos contraditórios designadamente no não sucesso da aplicação das mesmas. Por outro lado, o Geoturismo na sua essência não significa que possa ser um «turismo de massas». Poderá significar sim que num determinado espaço geográfico exista algo ou «produto túristico» diferente (ou diferenciador) que acima de tudo, a qualidade garantida para quem o visita.

6.       Considera que a ilha da Madeira e Porto Santo poderiam albergar um geoparque turístico?

A rede Europeia de Geoparques foi lançada em 2000 e a partir de 2004 surge a rede Global de Geoparques, apoiada pela UNESCO. Actualmente existem 58 Geoparques em 18 países. Em Portugal já existem dois geoparques, o da Naturtejo e o de Arouca, e estão em processo de candidatura o Geoparque dos Açores e do Porto Santo. Com as criações de geoparques «pretendeu-se» criar um conceito de desenvolvimento sustentável, baseado na promoção da geodiversidade e do património geológico, como já enunciei nas respostas às questões anteriores. Na minha opinião a criação de geoparques nas ilhas da Madeira e do Porto Santo só fará sentido com o envolvimento da população e ao que tudo indica será essa a pretensão dos promotores envolvidos (Autarquia e privados) no caso do projecto do Geoparque do Porto Santo. Assim, esta mesma Ilha já possui o seu projecto Geoparque que engloba catorze geossítios, igualmente enunciados na resposta dada no nº 4. O Geoparque Porto Santo, «aspira» a ser geoparque europeu pelo que a aceitação da sua candidatura à rede europeia (EGN) e à rede global (GGN) de Geoparques depois de ser reconhecido como Geoparque Regional e Geoparque Nacional.
O projecto do Geoparque do Porto Santo em termos gerais visa: «conhecer e conservar o património geológico da ilha do Porto Santo, reconhecido pela Câmara Municipal como uma mais-valia importante para o concelho; promover e valorizar este património junto das populações locais e do grande público; sensibilizar a população escolar para a importância do património natural, em geral, e geológico, em particular, no âmbito da Conservação da Natureza; promover um turismo sustentável de qualidade, suportado nos valores naturais e culturais da região; potenciar e incentivar o desenvolvimento de actividades económicas tradicionais relacionadas com o património natural e o turismo; desenvolver e implementar estratégias de divulgação turística e científica do Porto Santo.» Neste âmbito, no presente ano de 2012 decorreu no Porto Santo um Curso de Geoturismo e Geoparque do Porto Santo, organizado pelo Centro de Investigação GEOBIOTEC da Universidade de Aveiro em colaboração com a Câmara Municipal, através da Porto Santo Verde – Geoturismo e Gestão Ambiental, EEM. De acordo com a informação dos promotores deste evento o curso pretendia «dar a conhecer, o património natural da ilha, em particular a componente geológica, assim como as potencialidades geoturísticas de determinados sítios». Concluindo, de facto a Ilha do Porto Santo tem todas condições naturais para pertencer à rede Europeia de Geoparques e à rede Global de Geoparques.
Relativamente à ilha da Madeira e não se prevendo a curto prazo a criação de um Geoparque, esta igualmente terá todas essas condições para albergar um geoparque turístico aliado às suas áreas protegidas e à sua floresta (a Laurissilva) considerada Património Natural da Humanidade (UNESCO).

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