Pesquisar neste blogue

domingo, 10 de junho de 2012

Agradecimentos

Queremos expressar aqui a nossa gratidão para com o enorme contributo das seguintes pessoas na elaboração do presente trabalho:

- Professor João Lemos, pelos diversos materiais cedidos e por ter partilhado a sua opinião pessoal connosco acerca do tema em estudo;
- Senhor José Lemos, pela cedência de magníficas fotos sobre tantos elementos da geodiversidade madeirense e pela sua opinião acerca do tema em análise;
- Amiga Noélia Pita, também pelas fotos magníficas, que captam a essência da geodiversidade do nosso arquipélago, e que nos cedeu gentilmente;
- Professor Domingos Rodrigues pela sua opinião acerca do assunto em estudo.

sábado, 9 de junho de 2012

São Vicente

                                                                                                 Foto: José Lemos

    Do ponto de vista geológico, São Vicente constitui um ponto de bastante interesse. Para além do seu profundo vale e das Grutas e Centro de Vulcanismo, a escarpa contígua à praia de São Vicente, de natureza essencialmente piroclástica, com intercalações lávicas do Complexo vulcânico mais antigo da ilha e os calcários recifais dos Lameiros são razões mais do que suficientes para uma deslocação àquela zona da ilha.

                                                                                               Foto: José Lemos

Curral das Freiras

                                                                                                 Foto: José Lemos

    O Curral das Freiras é o resultado de uma gigantesca depressão originada pela intensa erosão de rochas piroclásticas do Complexo Vulcânico mais antigo. Como se trata de rochas mais friáveis que as envolventes sofreram com maior facilidade aos agentes erosivos que propiciaram essa depressão. 

Porto da Cruz

                                                                                                Foto: José Lemos


                                                                                                Foto: José Lemos

    O interesse geológico do Porto da Cruz é grande. A existência de escoadas mugearíticas de cor clara contrasta com a cor escura das restantes rochas vulcânicas da ilha. Encontram-se, também, sedimentos argilosos que apresentam fenda de retracção devidas à perda de água por causa da evaporação.
    Tal como acontece na Ponta do Sol, a alternância de materiais piroclásticos e escoadas de lavas em bancadas pouco espessas e com fraca inclinação formam cristas e zonas altas habitualmente designadas por “lombadas” ou “lombos”.

Figuras em Pedra

"Homem em Pé"

                                                                                             Foto: João Lemos




"o Cara"

                                                                                                Foto: José Lemos

 

Pico do Areeiro




                                                                                             Fotos: José Lemos

    A uma altitude de 1818 m encontramos o Pico do Areeiro que constitui um ponto turístico de grande afluência durante todo o ano. 
    Aqui encontramos o Complexo Vulcânico mais antigo da ilha, constituído por rochas piroclásticas com intercalaçoes de escoadas lávicas, atravessado por filões basálticos em diferentes direcções e inclinações.
    O Pico do Areeiro faz parte do Maciço Montanhoso Central. Este complexo, de elevada altitude e de rochas basálticas, tem uma grande resistência à erosão dos agentes externos. É composta por material duro e resistente resultantes de dykes que formaram cristas finas, quebradas ou picos muito acentuados.
    As suas escarpas de cor avermelha e arroxeada, formadas por piroclastos amparadas por filões e diques basálticos, guarnecidas por bombas vulcânicas e pelas escoadas cíclicas da actividade vulcânica.
    

Paúl da Serra


                                                                                             Fotos: José Lemos

    O planalto do Paúl da Serra é a continuidade do Maciço Central. As suas rochas são revestidas por uma escoada lávica resistente que a protege da erosão dos agentes atmosféricos.
   O complexo basáltico do Paúl da Serra é constituído por lavas basálticas compactas e por níveis de piroclásticos finos e extensos. 
  O Paúl da Serra é o resultado de várias emissões eruptivas e apresenta depressões fechadas, possivelmente provenientes de lavas muito fluídas.
    Ao longo deste planalto são visíveis pequenos canais que serviram de transporte das lavas e nos leitos dos seus cursos de agua e na barreira das estradas é possível observar  a erosão dos basaltos da escoada lávica com acentuada escamação esferoidal. 

Encumeada

                                                                                                  Foto: Noélia Pita

    Localizada a cerca de 1000 metros de altitude é um dos pontos mais relevantes da morfologia da ilha da Madeira. É uma zona deprimida entre duas montanhas e é o recuo das ribeira Brava (para Sul) e de São Vicente (para Norte) e constituem quase uma divisão da ilha.
   No topo desta região, é possível vislumbrar, de um lado, o mar do Norte e, do outro, o mar do Sul. É um dos pontos de maior interesse e afluência dos turistas que visitam a ilha.
   Nesta região, ainda aflora o Complexo Vulcânico β₃com forte intercalação de escoadas lávicas que formam uma protecção às rochas subjacentes - piroclásticas, do Complexo de base β₁ - da erosão.
      . 
    

Ponta do Pargo

                                                                                                  Foto: Noélia Pita

    Perto do farol da Ponta do Pargo há uma imensa escarpa rectilínea e extensa que separa a terra do mar.
                                                                                                Foto: José Lemos

 Possui um "pequeno alto com um vértice trigonométrico [que] corresponde a um cone vulcânico recente."*
    Ao longo da sua encosta é possível contemplar depósitos na base provenientes das escarpas e que formam novas fajãs. É o caso da Fajã Nova, como podemos ver na imagem acima e a Fajã Pequena na imagem abaixo.

                                                                                               Foto: José Lemos

* RIBEIRO, M. Luisa, RAMALHO, Miguel, Uma visita geológica ao arquipélago da Madeira : principais locais geo-turísticos, Lisboa : Direcção Regional do Comércio, Indústria e Energia, 2009. 

Cliques e flashes - Noélia Pita - Porto Santo

Opinião de Domingos Rodrigues - Geológo/Professor universitário

1.       Diga o que entende por Geoturismo.

Actividade turística em que os conceitos de geologia são usados para explicar a paisagem, as suas formas e os processos naturais.

2.       Considera que o Geoturismo compreende um novo nicho do turismo de natureza na ilha da Madeira e Porto Santo com potencialidades de aproveitamento económico?
       Considero.
3.       Na sua opinião, que aspectos relacionados com a geodiversidade da ilha da Madeira e Porto Santo carecem de maior atenção e aproveitamento para fins turísticos?

Sendo ilhas vulcânicas, desde logo, os locais e as formações ilustrativos da actividade vulcânica que formou a ilha, assim como as formações originadas pelos processos erosivos e de desgaste dos edifícios vulcânicos.

4.       Enumere locais na ilha da Madeira e Porto Santo passíveis de serem convertidos em atracões geoturísticas?
Madeira – Eolianitos da Ponta de S. Lourenço, Cone vulcânico dos Reis Magos
Porto Santo – Pedreira do Pico da Ana Ferreira, Ilhéu da Cal


5.       Na sua opinião, que tipo de políticas deveriam ser implementadas tendo em vista a valorização da geodiversidade no contexto do sector do Turismo?

Conservação, preservação, divulgação do Património Natural.

6.       Considera que a ilha da Madeira e Porto Santo poderiam albergar um geoparque turístico?
      Considero

Bibliografia

- Brilha J.B.R. (2005), Património Geológico e Geoconservação: a Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica, Palimage Editora;

- CUNHA, Licínio (2008);Avaliação do Potencial Turístico, IN COGITURJournal of Tourism Studies; vol. 1, n.º 1.

- NASCIMENTO, Marcos António Leite, AZEVEDO, Úrsula Ruchkys, NETO, Vírginio Mantesso (2007), “Geoturismo: um novo segmento do turismo”, in PUC Minas – Revista de Turismo – Vol. 2 - N° 3;

-  SANTOS, José Fernando Oliveira (2011);Os impactos do Turismo Religiosoo caso da Semana Santa em Braga- dissertação de mestrado apresentada na Universidade Fernando PessoaFaculdade de Ciências Humanas e Sociais; pp. 8-12;

Geoturismo vs Ecoturismo


Como já foi adiantado em posts anteriores, o Geoturismo pode ser considerado parte integrante do Ecoturismo que se assume, segundo a Sociedade Internacional do Ecoturismo como “a visita responsável a áreas naturais conservando o ambiente e melhorando o bem-estar das populações locais”.
Contudo, o ecoturismo sempre esteve muito entranhado à valorização de aspectos afectos à biodiversidade dos destinos turísticos, pelo que o Geoturismo apresenta-se com vantagens acrescidas quando contraposto ao Ecoturismo “tradicional”, conforme destaque no quadro que se segue.


GEOTURISMO
VANTAGENS
- Não está restrito a variações sazonais tornando-o atractivo durante todo o ano;
- Não está dependente dos hábitos da fauna;
- Pode desviar turistas de locais sobrelotados;
- Pode complementar a oferta em zonas turísticas;
- Pode promover o artesanato com motivos ligados à geodiversidade local.

Fonte: Brilha (2005)

            Pergunta-se, então, se não devemos falar em “GEOECOTURISMO”, aliando assim a componente bio à geodiversidade? Fica aberta a discussão!

Os Geoparques como meios de promoção do segmento “Geoturismo”

A promoção da conservação do património geológico constituí-se como um dos maiores desafios da comunidade de geociências deste século. Generaliza-se a ideia de ser cada vez mais importante atentar aos pormenores oferecidos pelos minerais, as rochas, os fósseis, o relevo e as paisagens actuais, uma vez que os mesmos são provas da forma como evoluiu fisicamente o planeta Terra.
Assim, desde finais do século XX, têm surgido, em alguns países, apoiados pela UNESCO, atitudes tendo em vista a valorização de aspectos geológicos com o intuito de se assumirem como focos de atracção turística local.
De entre as iniciativas promovidas neste âmbito, o nosso especial destaque vai para o Programa Geoparks da UNESCO.

Mas o que é um Geoparque?

Segundo definição avançada pela UNESCO (2004), um geoparque pode ser entendido como:

“Um território com limites bem definidos e que tem uma área suficientemente grande que permita um desenvolvimento sócio-económico local, cultural ew ambientalmente sustentável. O geoparque deverá contar com geossítios de especial relevânia científica ou estética, de ocorrência rara, associados a valores arqueológicos, ecológicos, históricos ou culturais”.

Mais adiante voltaremos a nos debruçar na temática dos “geoparques”, estabelecendo um elo de ligação mais aprimorado com o caso concreto do arquipélago da Madeira.

O que é o "GEOTURISMO"?

O termo “geoturismo” é extremamente recente, passando a ser utilizado com alguma frequência a partir de meados da década de 90. A primeira definição deve a sua autoria a Hose (1995) que entende o geoturismo como sendo:

“a provisão de serviços e facilidades interpretativas que permitam aos turistas adquirirem conhecimento e entendimento da geologia e geomorfologia de um sítio (incluindo sua contribuição para o desenvolvimento das ciências da Terra), além de mera apreciação estética”.

Recentemente, um outro autor, Ruchkys (2005) definiu o geoturismo como sendo:

“um segmento da actividade turística que tem o património geológico como seu principal atractivo e busca sua protecção por meio da conservação de seus recursos e da sensibilização do turista, utilizando, para isto, a interpretação deste património o tornado acessível ao público leigo, além de promover a sua divulgação e o desenvolvimento das ciências da Terra”.

Portanto, em traços muito gerais o geoturismo utiliza feições de cariz geológico como principal atractivo turístico, divulgando a geodiversidade da região onde se insere, sendo extremamente útil para promover o elo com as atividades de ecoturismo e de geoconservação. Note-se que um destino que apresente potencialidades ao nível geoturístico não poderá descurar uma estratégia de geoconservação que permita a sustentabilidade dos geossítios. Entretanto, mais adiante, dedicaremos um post exclusivamente à relação entre o "geoturismo" e o "ecoturismo".

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Opinião de José Lemos Silva - Militar com hobbie da fotografia

      José Lemos Silva - Militar com hobbie da fotografia (veja as suas belíssimas fotografias na página do facebook http://www.facebook.com/#!/jose.lemossilva.3)
1.       Diga o que entende por Geoturismo.

Genericamente o Turismo visa a visita e a observação de espaços geográficos desconhecidos por parte de turistas. As paisagens apreciadas pelos mesmos sejam elas humanizadas ou naturais, têm particularidades geológicas que passam despercebidas a muitos turistas que visam o Turismo da Natureza. Assim, para satisfação dos mesmos, basta a simples contemplação dessas mesmas paisagens. Por outro lado, se aliar-mos a esses espaços geográficos a oferta de conhecimentos científicos sobre os aspectos geológicos, ambientais e culturais, teremos de facto o Geoturismo, salvo melhor opinião.
Em complemento, foi através da «Declaração de Arouca», saída do Congresso Internacional de Geoturismo - «Geotourism in Action - Arouca 2011» que decorreu no Arouca Geopark (Portugal continental), sob os auspícios da UNESCO, entre 9 a 13 de Novembro de 2011, que ficou definido no seu ponto nº 1 o conceito de Geoturismo. Assim, e de acordo com essa mesma declaração, entende-se por Geoturismo o «turismo que sustenta e incrementa a identidade de um território, considerando a sua geologia, ambiente, cultura, valores estéticos, património e o bem-estar dos seus residentes», e que, o «turismo geológico assume-se como uma das diversas componentes do geoturismo».

2.       Considera que o Geoturismo compreende um novo nicho do turismo de natureza na ilha da Madeira e Porto Santo com potencialidades de aproveitamento económico?

A paisagem do arquipélago madeirense de origem vulcânica com milhões de anos, apresenta um enorme conjunto de formas, rochas e estruturas, que decorreram de entre outros factores, da natureza dos seus magmas, do tipo das várias erupções que as originou, sendo posteriormente moldada pelos agentes externos da hidrosfera, atmosfera e biosfera. Assim, uma vez que o Geoturismo é uma modalidade turística que fomenta a geodiversidade e sítios com interesse geológico protegidos e preservados (já com alguma legislação própria, tanto regional como nacional e europeia), considero que o mesmo poderá compreender um novo nicho do turismo de natureza na ilha da Madeira e Porto Santo com potencialidades de grande aproveitamento económico para o Arquipélago. E, isto porque os espaços insulares apresentam uma geodiversidade (ou diversidade geológica) com características muito próprias nas diferentes ilhas do Arquipélago. Atrevo-me a dizer que o Geoturismo se poderia estender às outras ilhas designadamente às Desertas e às Selvagens como complemento do turismo de cruzeiro e do turismo científico.

3.       Na sua opinião, que aspectos relacionados com a geodiversidade da ilha da Madeira e Porto Santo carecem de maior atenção e aproveitamento para fins turísticos?

O Geoturismo deve ser uma «forma de fazer turismo» que possa promover a identidade de um determinado destino e do seu desenvolvimento sustentável oferecendo a possibilidade de descobrir novas vivências (ou novas experiências) que enriqueçam culturalmente os turistas. Desta forma, teremos que ter sempre em conta os aspectos relacionados com a geodiversidade, designadamente dos elementos que a complementam (ou integram) juntamente com a geologia, que são os residentes (que exploraram e ainda exploram os recursos geológicos das ilhas para a construir o seu património edificado: edifícios, poios e levadas etc.), os seus usos e costumes, as tradições, a cultura, a etnografia e gastronomia. Neste sentido, entendo que na ilha da Madeira e do Porto Santo os aspectos anteriormente enunciados serão os mais relevantes para fins turísticos dos geodestinos, e recordo a supracitada «Declaração de Arouca», em que o Geoturismo visa o «turismo que sustenta e incrementa a identidade de um território, considerando a sua geologia, ambiente, cultura, valores estéticos, património e o bem-estar dos seus residentes».

4.       Enumere locais na ilha da Madeira e Porto Santo passíveis de serem convertidos em atracões geoturísticas?

Por ser um leigo no tema em análise e igualmente por não ter conhecimentos académicos para responder directamente à pergunta e se me é permitido, aproveito para relembrar o enquadramento histórico-geológico do Arquipélago da Madeira e de certo modo responder indirectamente às questões enunciadas. Assim, geologicamente o Arquipélago da Madeira, segundo as teorias mais recentes, tiveram início há milhões de anos, em consequência da expansão do Atlântico, em consequência do movimento das Placas Tectónicas, em erupções que ocorreram pela ascensão de magma proveniente da Pluma Térmica, formando pontos quentes ou «hot-spots» (o Hotspot Madeira e o Hotspot das Canárias), localizados no manto subjacente à Placa Tectónica Africana. O arquipélago madeirense foi formado por tipos de vulcanismo diferentes entre si e pertencem também a duas «províncias petrográficas» distintas: uma engloba a Madeira, Desertas e Porto Santo e a outra que constitui as ilhas Selvagens. Segundo os especialistas, as primeiras ilhas a emergir foram as Selvagens, há cerca de 27 Ma, seguidas do Porto Santo, há 14 Ma, e a Madeira e Desertas, aproximadamente, há 5,2 Ma.
As erupções vulcânicas que deram origem ao Porto Santo (14 Ma) iniciaram-se na época do Miocénico do período Neogénico (Terciário). A leste e a nordeste localiza-se o conjunto de aparelhos vulcânicos principais. É nesta área que se observa as maiores altitudes e os vales mais encaixados, apesar de ser a unidade geomorfológica mais antiga. O pico do Facho é o mais alto (517 m), seguindo-se o Branco (450 m), o Gandaia (449 m) e o Castelo (437 m). Na área ocidental salientam-se os picos do Espigão (270 m) e de Ana Ferreira (283 m), de formação mais recente que o grupo de cones vulcânicos do nordeste, apresentando altitudes bastante inferiores. Entre o Pico do Castelo e o Pico de Ana Ferreira, estende-se a depressão quase plana que constitui a terceira unidade geomorfológica desta Ilha. As costas leste, norte e oeste, são altas e escarpadas, com muitos recortes, contrastando com a extensa praia de areias calcárias que ocupa quase todo o litoral sul da Ilha, onde estudos científicos recentes as consideram de grande valor terapêutico.
Ao que sabe através comunicação social e das entidades oficiais, a Ilha do Porto Santo com os seus cerca de cerca de 27 Ma tem no presente momento a apresentação do processo de candidatura do seu Geoparque da UNESCO. Segundo os especialistas, são catorze os locais de relevância geológica do Geoparque do Porto Santo que poderão assumir-se como geossítios, nomeadamente «a Disjunção Prismática do Pico de Ana Ferreira, os Conjuntos de filões e rizoconcreções dos Morenos, as Lavas em almofada e alteração em disjunção esferoidal do Zimbralinho, os Recifes fossilizados e Galerias do Ilhéu da Cal, os Tubos de lava do Ilhéu de Cima, o Cabeço das Laranjas do Ilhéu de Cima, os Eolianitos da Serra de Fora, o Salão da Serra de Dentro (Navalhão-Baião), os Níveis Fossilíferos do Lombinho da Serra de Dentro, a Disjunção Prismática do Pico Branco, Hialoclastitos do Pico da Cabrita, os Conjuntos de filões do Porto das Salemas, os Eolianitos da Fonte da Areia e, por fim, as Areias biogénicas carbonatadas, fossilíferas, da Praia do Porto Santo» (JN 24 abr 2011).
Relativamente à Ilha da Madeira, esta que surgiu (a fase emergente da água do Mar), no período do Neogénico (Terciário), da época do Pliocénico (há cerca de 5,2 Ma), numa área afastada do turbulento Rift Meso-Atlântico. Na sua formação, do centro da Terra brotaram as torrentes de lava, as cinzas e outros materiais piroclásticos que se foram acumulando. Os aparelhos eruptivos foram profundamente corroídos pelos agentes erosivos e apenas no Santo da Serra e no Fanal, se conservam ainda em bom estado crateras vulcânicas. Os primitivos focos vulcânicos madeirenses deram origem ao Maciço Montanhoso Central de que fazem parte, entre outros, os picos: Ruivo (1862 m), Torres (1851 m), Areeiro (1818 m), Cidrão (1802 m), Cedro (1759 m), Casado (1725 m), Grande (1657 m), Ferreiro (1582 m). Posteriormente, ao fim desta fase (ou de várias fases?), formou-se uma pequena ilha rodeada de recifes coralígenos, restando vestígios da fauna marinha numa camada calcária no Sítio dos Lameiros, em São Vicente que foi explorado para produção de cal. Nas fases seguintes, as chaminés vulcânicas passaram a ter erupções mais calmas, e cobriram-se de cinzas, escórias e bombas vulcânicas com lavas basálticas. Com o vulcanismo predominantemente efusivo, novos focos surgiram a oeste e a leste da ilha primitiva. A ocidente formou-se o Planalto do Paul da Serra, enquanto a Leste nasceram os pequenos planaltos do Poiso e Santo da Serra e a península de São Lourenço e as Desertas. As tensões no interior dos aparelhos vulcânicos, geraram fracturas e muitas delas foram preenchidas posteriormente por injecções de magma, formando-se, assim, as redes de filões e diques que podem ser observadas na parte central da Ilha e nalguns trechos da costa. Terminado o trabalho dos vulcões, começaram as águas torrenciais, provenientes das chuvas, a «moldar» e a construir grandes vales profundos, como é o exemplo do Curral das Freiras de entre outros. Desta luta de milhões de anos entre elementos da natureza, resultou actual paisagem natural da Madeira admirada por todos os que a visitam. A costa da Madeira e das Desertas, é predominantemente alta e escarpada. A «abrasão marítima», provocada pelo Atlântico teve por consequência a formação de derrocadas (quebradas), dando origem às fajãs madeirenses. O Cabo Girão é o segundo alcantilado marinho mais alto do mundo com 580 metros de altitude. As praias de calhaus ocupam estreitos espaços entre as falésias e o mar. Na Madeira não existem notícias históricas recentes de manifestações vulcânicas. O vulcanismo aqui é considerado quase extinto ou adormecido. A título de curiosidade, recentemente na ilha da Madeira com a construção de túneis e galerias de captação de águas subterrâneas, (Túnel da Encumeada e Galeria da Fajã da Ama), foram encontradas águas gasocarbónicas naturais e gases expelidos através de fracturas, o que pode significar que, o Arquipélago apenas atravessa um período de inactividade vulcânica. Ainda relativamente à Ilha da Madeira poderemos ter como atracões geoturísticas distribuídas pelos primitivos focos vulcânicos madeirenses (que deram origem ao Maciço Montanhoso Central), o Planalto do Paul da Serra, os pequenos planaltos do Poiso e Santo da Serra, a península de São Lourenço (as dunas da Piedade e Pico da Piedade) e grande parte do litoral insular como por exemplo o Pico da Atalaia no Caniço.
Igualmente, e como já referi anteriormente, não vou enumerar ou classificar locais de relevância geológica na Ilha da Madeira que possam ter características para serem classificados como «atracão geoturísticas» deixando isso para os especialistas, até porque alguns já foram enunciados nos parágrafos anteriores. Neste contexto e em complemento ao anteriormente dito, recordo que a RAM através do Decreto Legislativo Regional nº 24/2004/M, publicado no Diário da República, Número 196 I-A Série, de 20 de Agosto de 2004 que vem desde já salvaguardar e proteger algum património geológico do arquipélago. Este mesmo decreto dá como exemplos, as formações geológicas, como o «Homem em pé» e a «Cara» ou «Cabeça», localizados na Achada do Teixeira, no concelho de Santana, o «Arco» e as «Furnas» em basalto, na Tabua, o «Ilhéu» da ribeira da Janela, a «Gruta do cavalum», em Machico, as «Grutas», em São Vicente, o «Frade», no Vale de São Vicente, a «Chaminé» e a «Carapita», no Vale da Boaventura, na Madeira e o «Pico da Ana Ferreira», no Porto Santo. Algumas destas formações geológicas, têm formas humanóides e são conhecidas no arquipélago por «pedras vivas» ou «pedras antropoglifitas», que correspondem a figuras de seres humanos. Segundo o mesmo decreto regional, a «melhor maneira de preservar um bem patrimonial comum é fomentar o seu acesso científico, cultural e pedagógico a todos os que possam e queiram usufruir, pelo que urge criar legislação de âmbito regional para assegurar a sua conservação e preservação».

5.       Na sua opinião, que tipo de políticas deveriam ser implementadas tendo em vista a valorização da geodiversidade no contexto do sector do Turismo?

No meu entender a biodiversidade e geodiversidade são conceitos que cada vez mais se afirmam nas políticas de desenvolvimento das sociedades actuais num mundo globalizado onde a informação corre sem fronteiras. Não existe desenvolvimento económico e social sem criarmos políticas protecção do meio em que vivemos pois corremos o risco de colocar em causa a nossa própria sobrevivência. Assim, devem ser implementadas políticas que visem o desenvolvimento sustentável, a preservação e a protecção (ou a recuperação) do património natural que é comum a todos nós, designadamente na criação de geoparques (com os seus geossítios) «como territórios de excelência» onde o meio natural seja parte integrante da vivência humana. Estas políticas devem sempre ter em conta a valorização da geodiversidade e do património geológico, e a envolvência ou interacção dos seus residentes onde estão inseridos, e nunca ao contrário, pois teríamos efeitos contraditórios designadamente no não sucesso da aplicação das mesmas. Por outro lado, o Geoturismo na sua essência não significa que possa ser um «turismo de massas». Poderá significar sim que num determinado espaço geográfico exista algo ou «produto túristico» diferente (ou diferenciador) que acima de tudo, a qualidade garantida para quem o visita.

6.       Considera que a ilha da Madeira e Porto Santo poderiam albergar um geoparque turístico?

A rede Europeia de Geoparques foi lançada em 2000 e a partir de 2004 surge a rede Global de Geoparques, apoiada pela UNESCO. Actualmente existem 58 Geoparques em 18 países. Em Portugal já existem dois geoparques, o da Naturtejo e o de Arouca, e estão em processo de candidatura o Geoparque dos Açores e do Porto Santo. Com as criações de geoparques «pretendeu-se» criar um conceito de desenvolvimento sustentável, baseado na promoção da geodiversidade e do património geológico, como já enunciei nas respostas às questões anteriores. Na minha opinião a criação de geoparques nas ilhas da Madeira e do Porto Santo só fará sentido com o envolvimento da população e ao que tudo indica será essa a pretensão dos promotores envolvidos (Autarquia e privados) no caso do projecto do Geoparque do Porto Santo. Assim, esta mesma Ilha já possui o seu projecto Geoparque que engloba catorze geossítios, igualmente enunciados na resposta dada no nº 4. O Geoparque Porto Santo, «aspira» a ser geoparque europeu pelo que a aceitação da sua candidatura à rede europeia (EGN) e à rede global (GGN) de Geoparques depois de ser reconhecido como Geoparque Regional e Geoparque Nacional.
O projecto do Geoparque do Porto Santo em termos gerais visa: «conhecer e conservar o património geológico da ilha do Porto Santo, reconhecido pela Câmara Municipal como uma mais-valia importante para o concelho; promover e valorizar este património junto das populações locais e do grande público; sensibilizar a população escolar para a importância do património natural, em geral, e geológico, em particular, no âmbito da Conservação da Natureza; promover um turismo sustentável de qualidade, suportado nos valores naturais e culturais da região; potenciar e incentivar o desenvolvimento de actividades económicas tradicionais relacionadas com o património natural e o turismo; desenvolver e implementar estratégias de divulgação turística e científica do Porto Santo.» Neste âmbito, no presente ano de 2012 decorreu no Porto Santo um Curso de Geoturismo e Geoparque do Porto Santo, organizado pelo Centro de Investigação GEOBIOTEC da Universidade de Aveiro em colaboração com a Câmara Municipal, através da Porto Santo Verde – Geoturismo e Gestão Ambiental, EEM. De acordo com a informação dos promotores deste evento o curso pretendia «dar a conhecer, o património natural da ilha, em particular a componente geológica, assim como as potencialidades geoturísticas de determinados sítios». Concluindo, de facto a Ilha do Porto Santo tem todas condições naturais para pertencer à rede Europeia de Geoparques e à rede Global de Geoparques.
Relativamente à ilha da Madeira e não se prevendo a curto prazo a criação de um Geoparque, esta igualmente terá todas essas condições para albergar um geoparque turístico aliado às suas áreas protegidas e à sua floresta (a Laurissilva) considerada Património Natural da Humanidade (UNESCO).

Opinião do geógrafo/professor de geografia João Lemos


João Lemos – Geógrafo/Professor de Geografia

1.       Diga o que entende por Geoturismo.
R. O geoturismo é um segmento turístico que estudo os elementos geológicos existentes num dado território e que poderão contribuir para aumentar a afluência de turistas a esse mesmo espaço geográfico.

2.       Considera que o Geoturismo compreende um novo nicho do turismo de natureza na ilha da Madeira e Porto Santo com potencialidades de aproveitamento económico?
R: Sim. Penso que o geoturismo pode ser um elemento diferenciador da marca turística da Madeira e do Porto Santo e ao mesmo tempo potenciar o setor, acrescentando valor económico, social e científico na Ilha da Madeira e na Ilha do Porto Santo. Pois, estas duas ilhas têm muitos elementos geológicos que ao serem integrados em rede, irão contribuir para a elaboração de itinerários turísticos específicos e por conseguinte complementar a oferta turística das duas ilhas.

3.       Na sua opinião, que aspectos relacionados com a geodiversidade da ilha da Madeira e Porto Santo carecem de maior atenção e aproveitamento para fins turísticos?
R: Penso que tudo o que está por transformar em recursos turísticos, desde os vários elementos/conjuntos geológicos existentes no Porto Santo bem como na Ilha da Madeira. O geoturismo está por desenvolver a todos os níveis. É o caso dos ilhéus, dos cones vulcânicos, das antigas crateras vulcânicas, das formações rochosas resultantes da erosão eólica e fluvial até aos Picos que apresentam grandes diferenças em termos de fisionomia, de composição e de caraterísticas.

4. Enumere locais na ilha da Madeira e Porto Santo passíveis de serem convertidos em atracões geoturísticas?
R: Do meu ponto de vista, na Ilha do Porto Santo destacava o Miradouro da Pedreira de rochas prismáticas colonares; O Pico Ana Ferreira; O Pico Branco; O Pico de Castelo; O Pico de Castelo; O Miradouro das Flores; As superfícies de ravinamento existentes em vários lugares;  O Ilhéu da Cal e todos os outros.
Na Madeira: O Pico do Areeiro; O Pico Ruivo; O Pico das Torres; As Chaminés de Fada existentes na vereda Pico do Areeiro/Pico Ruivo; O Homem-em-Pé; A Cara; O Paul da Serra; O Arco de São Jorge (vestígios de uma antiga cratera vulcânica); A Penha de Águia no Porto da Cruz; A plataforma de Abrasão do Porto da Cruz; A Rocha do Espigão no Porto da Cruz; O Cone Vulcânico da Piedade; As Dunas da Piedade; A Torrente do Caldeirão Verde; O Véu da Noiva no Seixal; O Ilhéu Mole no Porto Moniz; A Fajã dos Padres; A Fajã das Achadas da Cruz; A Fajã das Galinhas em Câmara de Lobos; O Cabo Girão; O Curral das Freiras; O Miradouro do Serrado; A Fajã de abrasão da Penha de Águia – Faial; Os Balcões no Ribeiro Frio; O Cone Vulcânico da Atalaia no Caniço; O Pico dos Barcelos no Funchal; O Caldeirão do Inferno; etc.

5.       Na sua opinião, que tipo de políticas deveriam ser implementadas tendo em vista a valorização da geodiversidade no contexto do sector do Turismo?
R: Primeiro os governantes responsáveis pelo turismo, pelo território e pelo ambiente, deveriam idealizar uma Estratégia de Desenvolvimento para o Turismo de curto, médio e longo prazo. Depois, integrar os vários produtos/recursos turísticos sob a forma de marcas específicas ou de nichos específicos, onde o Geoturismo teria uma abordagem científica, técnica e turística própria, com a colaboração dos investigadores e dos geógrafos, visando um segmento diferenciador da Madeira e do Porto Santo. Neste sentido teríamos itinerários turísticos específicos relacionados com os geomonumentos.

6.       Considera que a ilha da Madeira e Porto Santo poderiam albergar um geoparque turístico?
R: Sim. Do meu ponto de vista já deveria estar no terreno.
Julgo que seria um geoparque turístico no Porto Santo e outro na Madeira, embora a promoção pudesse ser conjunta para rentabilizar as sinergias e os recursos financeiros.
A Madeira como destino turístico em decadência, tem de apostar nos seus recursos naturais e transformá-los em recursos turísticos, retirando o máximo de proveito, principalmente turístico e económico. Os territórios turísticos que dispõem de maior diversidade de produtos terão o futuro assegurado, principalmente os produtos diferenciadores dos outros espaços turísticos. A Madeira e Porto Santo têm elementos geológicos muito diversificados e estão praticamente todos por estudar e cartografar para depois elaborar os tais itinerários turísticos.
O futuro do nosso turismo está na inovação, na criatividade e na diferenciação dos nossos produtos. O geoturismo pode ser a mais-valia que a RAM necessita para desenvolver mais o setor turístico, através duma oferta multivariada.